18 setembro, 2002

A regra foi a seguinte: seriam mandados embora 60 funcionários do hotel inteiro, dois de cada depto.
Vera e Kézia entraram em reunião e encontraram a maneira mais justa - ou menos injusta, como ela mesma me disse - de escolher quem sairia: quem estava há menos tempo o depto., já que o hotel estava satisfeito com o serviço de todos. Achei que foi o melhor à fazer mesmo...
Foi um baque. 1 ano e meio naquela grande família vai ser difícil esquecer. Muitas coisas importantes na minha vida aconteceram enquanto eu estava lá.
Meus pais descobriram que eu era gay... foi naquela praça do lado que eu tive a pior conversa da minha vida com meu pai. E foi no hotel que eu encontrei forças para me assumir, poder dizer "sou gay sim e daí ?!" pois foi lá que eu comecei contando pra um, pra outro... e todos me aceitaram como eu sou, passei à ter mais amigos do que eu imaginava conquistar!
Aprendi muito com cada um daqueles rostinhos lá de dentro, e não vai ser fácil esquecer deles. Esquecer das lágrimas que derramei lá dentro, das risadas que eu dei, da primeira vez que eu ganhei chocolates de alguém, da viagem que eu fiz pro Rio e voltei radiante pra trabalhar dia seguinte... muitas coisas!
Achei por bem escrever um email e enviar para all users do sistema.
Agradeci à todos que trabalharam comigo, em especial à Lu, que se tornou uma grande amiga; aos mordomos... apesar do pouco tempo lá, foi o suficiente pra me apaixonar por cada um deles; e à Vera e ao Paulo. Meus chefes, ídolos e mentores... pessoas que seguirei como exemplo de vida pois mais do que ótimos profissionais, são pessoas maravilhosas e que acreditaram em mim.
Mandei o email... fiquei sabendo depois que a diretora de RH achou o que eu escrevi petulante, melodrámatico. "Quem ele pensa que é ?!"
Quem ela pensa que é pra julgar assim o sentimento dos outros ?
No questionário final de desligamento, hesitei um pouco, mas achei melhor comentar isso. E escrevi lá:
"Não gostei de teram tachado meu email de dramático. Só quem trabalhou 1 ano e meio aqui dentro, interagindo com cada funcionário, e dependendo deles para a execução do seu serviço sabe como eu estou me sentindo. Me admira muito um profissional de RH, que noi meu ver deve ter um mínimo de psicologia no seu currículo, julgar de forma tão fria o o que eu senti. Embora eu não deve estar tão surpreso com essa atitude após 1 ano e meio aqui..."
Não sei se queimei Kézia, Vera ou Paulo... sei que escrevi. Aproveitei para dar a minha última alfinetada naquela bruxa que depois de ter dito isso, ainda me abraçou dizendo "Você vai voltar pra cá ainda..."

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