18 agosto, 2003

Sabe o que eu mais queria ?!
Voltar à época que eu tinha meus 7, 8 anos, onde minha única preocupação estava em fazer a lição de casa pro dia seguinte o mais rápido possível...
Ter as tardes regadas à groselha e sessão desenho na casa da minha avó, ir para a natação, ficar no clube o dia inteiro, andar de bicicleta, ir dormir cedo.
Era tudo tão simples, tão fácil. Tão descomplicado.
Eu era uma criança, inocente e pura. E tinha os olhos brilhando que nem duas jabuticadas pois ainda não sabia o que era maldade.
E na ponta do meu lápis de cor eu tinha a solução de todos os problemas. Eu era eu, eu fazia o que eu queria e todo mundo gostava, todo mundo ainda achava bonitinho. Era legal isso! Eu não tinha que parecer isso ou aquilo, eu agradava só pelo fato de ser criança.
E os adultos, por exemplo. Eu não entendia os adultos... sempre tão preocupados com tudo, cheios de problemas. Preocupados com o que todo mundo pensava. E sempre tão amargos e sérios.

Hoje eu cresci.
E hoje eu sou o amargo, que não tem tempo pra nada, que batalha por dinheiro e por sucesso profissional e é obcecado nisso.
Que pensa antes de agir pra agradar todo mundo e que morre de medo do que os outros pensam dele. Que tem problemas e não sabe como resolver. Que, pra quem vê por fora, é uma pessoa feliz, de bem com a vida; mas por dentro é um fraco.
Hoje eu sou o frio, o estresado, o sério, o mal educado, o complicado. Hoje eu sou aquele que engole seco e atura todo tipo de ofensa e insulto, só pra agradar. E pra parecer educado, bom amigo.

Hoje eu me tornei o maior dos hipócritas. Hoje eu mereço cada tapa na cara que eu já ganhei e vou ganhar da vida.
E pau que nasce torto, cresce e morre torto.
À cada tapa, eu vou olhar pro lado, fingir que não foi comigo e estampar um sorriso na cara. Vou me trancar no banheiro, chorar o quanto for preciso e fumar a quantidade de cigarros que me fizer melhor. Escondido.
E vou levantar a cabeça, sair de lá lindo e loiro, como se nada tivesse acontecido. Só pra parecer forte. Mais uma vez.

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