01 setembro, 2003

Um dia eu conheci um cara.
Ele entrou na minha vida como muita gente entrou depois que eu comecei esse blog. E eu, do fundo do coração, achei que ele passaria despercebido pela minha vida, sem deixar marcas nem nada. Caí do cavalo.
Ele era a pessoa mais incrível que eu já tinha conhecido. Não por ser bonitinho, gostosinho, inteligente e bem humorado. Ele era tudo isso sim, mas tinha mais alguma coisa lá dentro que o tornava apaixonante.
Talvez fosse isso... ele simplesmente era, sem intenção e sem noção alguma disso.

Nunca ninguém exerceu tamanho poder sobre mim.
Ele me desarmava. Todas as minhas máscaras caiam quando eu estava com ele. Eu podia ser eu mesmo sem medo nenhum, como eu nunca fui com ninguém.
Aliás, medo com ele não existia.
Estar com ele era como numa noite de inverno, você estar em casa envolto num edredon, com uma xícara de café ao lado. Era seguro, era confortável, era bom. E eu sabia que enquanto ele estivesse por lá nada me aconteceria.
Ele me motivava.
Cada vez que eu dava de cara com qualquer tipo de problema que me parecia fora de controle, eu lembrava dele e da história dele. E eu me enchia de coragem para levantar e ir atrás daquilo que era importante pra mim.
Ele me fez continuar em frente quando tudo dizia pra eu desistir.
E eu continuava em frente, dia após dia... esperando que um dia os olhos dele se voltassem pra mim.
Era a profissão dele. O piercing. A tatuagem. As músicas. O signo. Os gostos. Os defeitos. As histórias. O jeito de me tratar como um moleque. A cara de mau. O jeito de dançar. A risada. E os olhos pequenininhos em cada risada. Era falar que me encheria de porrada se um dia eu sumisse da vida dele.

E assim eu fui levando.
Ensaiando as falas para cada encontro nosso, e largando-as ao vento cada vez que eu me via em frente à ele. Ensaiando cada frase escrita num email, num post, num chat de icq.
Sempre procurando ser melhor do que eu era, ser mais forte do que eu era, aguentando mais do que eu podia aguentar. Nunca entregando os pontos.
Me odiando cada vez em que ele estava mal e tudo o que eu podia fazer era mandar um email dizendo pra ele segurar as pontas, que mesmo longe havia alguém que se preocupava com ele. Quando no fundo, eu queria era confortá-lo nos meus braços e dizer que tudo aquilo passaria.
Lamentando cada viagem dele, contando os dias para vê-lo novamente. E pensando nele todos - todos - os dias.
E enquanto ele estava por aqui, esperando por uma ligação. Por uma balada de fim de semana. Por um abraço de despedida que durasse um pouquinho mais apenas do que me era permitido.
Assim foi durante um ano.

Até que depois de tanto pensar, eu resolvi abrir o jogo.
Chega de colocar músicas nesse blog e nunca oferecê-las pra ninguém. Chega de fingir que era só um crush, uma coisinha passageira e que eu superei e estou bem. Eu não superei e eu não estou bem.
Parei e pensei muito no melhor à fazer.
Ou esse cara continuava na minha vida do jeito que eu queria que fosse, ou ele saia dela de uma vez por todas, e só voltasse quando eu estivesse pronto. Mesmo sabendo que eu nunca estaria pronto.

Foda que esse cara não era mais um. Esse cara era, acima de tudo um amigo.
Depois da Marianna, era ele. E eu não tinha direito nenhum de fazer isso com ele. De convidá-lo à se retirar da minha vida assim, sem mais.
Eu fui o culpado. Eu deixei isso nascer, e eu que deveria ir atrás pra acabar com isso de vez.

Sábado eu estive com ele. E no meio de uma conversa, eu decidi que aquela era a hora.
Não sei de onde eu tirei tamanha coragem em olhar pra ele e falar tudo isso que acabei de escrever aqui. Sei que tirei.

Acabou.
Toda esperança que eu tinha de que alguma coisa ainda aconteceria, morreu. Lá, naquela mesa, em meio à tantos cigarros, quando eu ouvi da boca dele que não rola.
Nossa amizade não morreu. Um dia, vamos rir juntos de tudo isso, eu sei. Até lá, ele tem o meu aval de não me poupar de nada.
Beije quem quiser na minha frente, fale de fulano, fale de ciclano. Acima de tudo, somos amigos e amigos fazem isso. E só assim eu vou entender, aceitar, e finalmente esquecer.
Pq o dia em que alguém me fizer o bem que ele me fez, eu vou querer compartilhar essa felicidade com as pessoas mais importantes do mundo pra mim, e ele é o primeiro da lista junto com a Mari.

Não sei se eu devia colocar isso aqui. Amanhã é capaz que eu mude de idéia, e no lugar desse post esteja uma foto de uma flor amarela, ou qq merda do tipo.
Mas eu sei que pelo menos hoje, escrever isso daqui está me fazendo bem. Esse blog daqui sou eu, e eu cansei de sentir e não poder escrever, fingir que estava tudo bem.
Pelo menos hoje, eu senti a necessidade de ser eu.

E se você estiver lendo esse post, não se sinta culpado por nada. Nem pense que isso daqui é uma tentativa de fazer você se arrepender do que me falou e voltar atrás, até pq eu sei que você não funciona assim. Entre tantas outras coisas que eu admiro em você, ser um cara de palavra é a maior delas.
E não pense também que se você sumisse do mapa seria mais fácil. Eu suportaria tudo, menos sua rejeição.

Eu só queria continuar o que eu comecei aquela noite e não consegui terminar. Devo isso não só à mim, mas à você principalmente. Eu abri o jogo com você, e tenho que ir até o final; então você tem que saber de tudo.

Tudo o que eu sinto por você - desde o dia em que eu pisei naquele Montecristo e fiquei te observando por uma hora sem coragem de chegar naquela mesa - não é apenas uma paixonite aguda de adolescente.
Eu sempre fui muito precoce em algumas coisas, mas muito devagar pra outras. Eu estou vivendo os meus 14, 15 anos agora, com 21. E o primeiro cara da minha vida foi você.
Hoje você ocupa um lugar aqui dentro que nenhum outro nunca vai ocupar. Você foi o primeiro. É natural que daqui pra frente qq um que eu conheça seja automaticamente comparado à você; e eu posso adiantar que poucos lhe alcançarão.
Admiração. É a mais pura admiração que eu sinto por você. Eu te tenho como um herói pra mim, e eu queria que você soubesse disso. Talvez agora você entenda pq tantas vezes eu falava que vc era foda...
E se voltar alguns meses atrás nesse blog, vc encontrará muitas coisas que antes pareciam sem sentido, mas que agora se encaixam.
Sim, poderia ser tudo muito mais simples, como vc mesmo falou. Poderíamos ser racionais apenas, agir com a razão e ponto final. Seria muito mais fácil e cômodo. Teria a mesma graça?! Não sei...
Maldita hora em que foi nos dado o direito de pensar, de opinar, de sentir... e a capacidade de apenas aceitar os fatos sem entender como eles funcionam; muito menos opinar, decidir e adequá-los com a nossa necessidade e conveniência.
Tudo ainda é muito recente. Daqui a pouco vc vai embora, atrás dos seus sonhos, e eu aqui vou correr atrás dos meus. Passarão dias, meses, anos. E só lá na frente eu saberei se o que eu fiz foi o melhor.

Eu sei que eu estou aliviado. Eu tirei um fardo das minhas costas – e espero não tê-lo jogado pra você.
E mais uma vez você provou ser merecedor de tudo o que eu sinto aqui. Mais uma vez eu senti que posso contar com você, e quero que você saiba que a recíproca é a mesma.
Eu te amo muito, e espero que um dia eu encontre alguém que me faça sentir tamanha felicidade, pelo simples fato de existir, como vc faz.
E desejo, como nunca desejei nada com tanta força, que você encontre alguém que lhe faça o mesmo bem que você me faz. E que quando isso acontecer, um possa passar a mão no telefone e contar ao outro.

Até lá, nem pense em sumir... senão eu viro homem de verdade e te encho de porrada!

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